sábado, 21 de agosto de 2021

Conto - Águas Profundas, por Lucas da Costa

   




 ÁGUAS PROFUNDAS

Lucas da Costa


Em uma manhã, quando certa moradora dirigiu-se à barragem do estreito, para banhar-se, pôde perceber as águas com a coloração azulada, mas achou que fosse apenas o esgoto da usina próxima, porém, os dias passaram e com eles vieram os sintomas de infecção: febre alta, fezes com sangue e muita dor de cabeça, daí em diante não demorou, para ocorrer a primeira morte da cidade.

Diante da situação, o Governador do estado, lançou um programa de emergência, que consistia na construção de moradias afastadas das cidades, para que as pessoas que estivessem infectadas fossem remanejadas, considerando a falta de tratamento e o caos na saúde pública. Acontece que essas casas, jamais chegaram a ser terminadas, e as famílias com medo da ameaça biológica, invadiram essas instalações inacabadas, e o Estado abandonou-as a própria sorte. 

Após algum tempo, constatou-se que aproximadamente 5% das crianças nascidas depois da primeira infecção desenvolveram anticorpos que as deixaram imune ao recém-descoberto XTG-33, em contrapartida, os idosos não resistiram à doença. Alterando assim, a expectativa de vida da população para quarenta e cinco anos.

Frente a calamidade, a população começou a se organizar, criaram as C. S. (Colônias Subterrâneas), já que há seis meses, uma chuva ácida assola quinzenalmente a região. Em decorrência da mudança climática os animais morreram e a comida ficou escassa, nossa única solução foi encontrar água no subsolo das cavernas. Passamos cultivar em estufa artesanal todo tipo de vegetais que conseguimos, mas com essa saída vieram a insegurança e a desconfiança, afinal, muitas colônias que não conseguiram se organizar começaram a atacar suas vizinhas.

Para amenizar as baixas, nossa Líder Mina Shimizu decidiu montar uma força militar, com o objetivo de defender nosso novo lar, e aqui estou em minha formatura. 

– Fernanda Campina! Um passo a frente, e faça o juramento.

– Em nome da Colônia, juro defender as vidas de meus companheiros, sobreviver!

– Este é seu arco, sua adaga. 

– Colônia Alfa!  Em coro todos juntos dizem.

– Não esqueçam que amanhã haverá uma reunião ao pôr do sol. 

Contudo, antes que pudéssemos festejar, uma fumaça irrompeu a colônia, reduzindo a pouca visibilidade a zero, de repente ouvimos gritos desesperados de crianças afastando-se rapidamente, considerando a situação todos os recém-formados na academia, receberam a sua primeira missão ali mesmo. Resgatar os pequenos levados.

A lua estreita ainda não pintara o céu, mas já estávamos correndo em busca do rastro dos inimigos, meu peito batia com força, a adrenalina eletrizava minha pele, normalmente, trabalhamos em trios e um era escolhido para ser o líder; enquanto corríamos, lembrei-me de algo que ouvi semanas atrás.

– Correm boatos nas colônias da aliança, que há um grupo de mercenários sequestrando as crianças que se tornam imunes.

 – Precisamos de informações detalhadas sobre esse grupo, podemos estar correndo perigo.

No momento, em que percorremos cerca de quatro quilômetros, chegamos a estrada estadual, pudemos avistar sete homens entrando na carroceria de um caminhão antigo, e sumiram no horizonte, eles vestiam roupas pretas e portavam bestas e bombas caseiras e armas brancas. 

Esperamos até que Mina nos alcançasse, e assim reformulássemos a estratégia, afinal aquela estrada levaria até Teresina e se completassem esse percurso, perderíamos todas as hipóteses de recuperarmos as crianças.

– Temos boas notícias equipes, disse Mina sorrindo, a colônia Sigma nos enviou a localização para onde os mercenários estão se dirigindo.

– Conseguimos um avião antigo sem combustível, mas já estamos providenciando e ele está a caminho, chegaremos a Teresina em noventa minutos.

– Certo! Qual é o plano? Perguntei com certa urgência.

– Invadir a base de pesquisa do XTG – 33.

– Vou mandar Luana como responsável pela missão. 

As coordenadas apontavam para o maior hospital do Estado o “Getúlio Vargas”, este é referência no tratamento e pesquisa de doenças virais no Brasil, é o lugar ideal para a realização dos testes nas crianças imunes. Segundo as plantas do prédio, são quinze andares. Mas como se pode imaginar, esse, tipo de experiência, normalmente, é realizado no subsolo, precisamos descobrir uma forma de descer até o laboratório onde estarão as crianças.

Enquanto sobrevoávamos parte do estado, fomos reagrupados em equipes de quatro soldados, para buscarmos entradas alternativas no sistema de esgoto da capital, para isso reunimos alguns explosivos para facilitar nossa entrada, contudo, não se sabe quais obstáculos teremos no caminho, afinal essas instalações evoluíram com a tecnologia dos últimos treze anos. Recebemos ainda suprimentos militares: bestas e bombas de coquetel “Molotov”. No momento em que começamos a sobrevoar a cidade, equipamos os paraquedas e nos preparamos para saltar e iniciar a missão de verdade.

Na hora de saltar, o céu da metrópole tomava um tom acinzentado em decorrência dos anos de poluição e das grandes fábricas que funcionam ali, note que em Teresina o vírus ainda não atacou, todavia, os terremotos eram constantes. As pessoas não saiam mais com a mesma frequência de suas residências, as indústrias ganharam mais automações e houve muitas demissões em escala, instaurando assim, um caos na economia do município, é nesse contexto, que aterrissamos próximo ao destino. 

– Em suas posições! Estabeleçam o perímetro e adentrem os pontos de inserção. Disse Luana. 

Os esgotos fediam, as paredes exibiam longas rachaduras, demorou um para localizarmos as entradas, mas conseguimos, armamos as bombas e assim obtemos acesso ao subsolo do hospital, encontramos algumas grades e portas que violamos, o interior parecia mais uma prisão, com o corredor extenso e várias portas.

De repente um de meus parceiros recebeu uma flecha no peito, das que são usadas em bestas,  nesse momento ficamos em posição de ataque, usamos uns móveis que decoravam o lugar como escudo e iniciamos o contra-ataque, enquanto metade da equipe defendia-se a outra vai em busca de abrigo nas salas, muitas delas estavam fechadas, até que uma que forcei abriu. Esta sala era um misto de documentos e tubos de ensaio, entretanto, vi umas das crianças raptadas da Colônia Alfa encontrava-se  entubada pude ver algumas marcas de luta corporal, e logo em seguida ele apareceu com uma seringa na mão:

– Bravo! Você encontrou o que procurava?

– Jacó... O que faz aqui? Pensei que estivesse na Europa...

– Eu estava sim, mas voltei para revolucionar o Brasil, começando pelo Piauí! Abaixe sua arma.

– Sua mãe aprova isso? Ela é a líder da Aliança! Estas por trás desse plano?

– Sim! Eu sou o arquiteto de todo esse projeto.

– À preço de quê? Das vidas inocentes? Você só conseguiu matança em massa.

– Calma querida, desenvolvi o vírus e a cura, tenho tudo sob controle, agora serei chamado de o Salvador. Observe que em minhas mãos está o controle. Farei o vírus espalhar-se por todo estado e em seguida chegarei com a vacina, e o medicamento. Serei o homem mais rico do Brasil. Olhe como injeto a cura nessa cobaia.

Nesse momento a pobre alma, começa a entrar em estado de choque, o coração perde a pulsação e o corpo daquela pessoa fica imóvel, eu começo a ficar nervosa. Neste instante o jovem levanta e as amarras se rompem e ataca Jacó matando-o como uma fera. Eu pego as armas do chão e atiro com a besta, contudo, as pontas quebram-se com facilidade, decido que vou recuar e reportar-me a nossa supervisora. Rendemos e levamos como reféns mais dois seguranças, finalmente, chegamos ao ponto de encontro, expliquei tudo a Luana que me ouviu e decidiu que denunciaríamos a situação às autoridades competentes, apresentado as provas, e os depoimentos daquilo que descobrimos.

Apesar de toda situação e descaso até então, eles fizeram buscas em todo hospital, encontrando as evidências do plano, infelizmente, não localizaram o corpo de Anderson, tampouco, a cobaia que sofreu aquela terrível mutação. Como recompensa pelo empenho, nosso grupo paramilitar recebeu treinamento especializado da secretaria de segurança do estado, e nos especializamos em ajudar os sobreviventes e na repressão de qualquer ataque de mutações que se tornaram comuns após alguns meses da invasão da base de pesquisa, as colônias modernizaram-se, porém, seguimos morando no subsolo, em busca de nos adaptarmos as mudanças que o novo mundo trouxe.

  Na verdade, foi descoberto que a Líder da Aliança estava do lado da conspiração do vírus, passando informações os grandes executores dessas ações destrutivas. Nossa Líder Mina Shimizu foi votada com a substituta realizando inovações e elaborando leis de convivência para as colônias aliadas, conseguimos mais espécies de plantas comestíveis para aumentar nossa variedade na horta, eu fui condecorada pelos resultados da missão.

Um grupo de estudiosos foi designado para pesquisar uma forma de recuperarmos as águas da barragem do estreito, outra divisão criada nas colônias relaciona-se ao desenvolvimento de armas de combate, com o apoio do governo recebemos a autorização para o uso exclusivo de armamento bélico, as crianças voltaram a estudar após meses sem frequentar a sala de aula, a população sentia-se mais protegida, sua condição de vida melhorou.  Contudo, uma preocupação que não me abandonava era que essas mutações estão à solta pelo estado, causando sabe-se lá que tipos de atrocidades e consequências, mas decidir que iria me especializar no combate contra tais feras.


 FIM




Lucas Souza da Costa, nasceu na cidade de Abaetetuba - PA, formado em Lincenciatura plena em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Pará.

 

Contatos do Autor

E-mail: lucasscosta19@gmail.com



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