A CHUVA DOURADA
Adriano Besen
Dizem que no passado era comum se ouvir
falar da Chuva Dourada. A lenda de um tesouro que repentinamente surgia na vida
de algumas pessoas, oferecido como um presente vindo do além. Volta e meia se
ouvia histórias e relatos de pessoas que enriqueceram após ter a sorte grande
de presenciar esse fenômeno espetacular. Meu tio e meu avô viram de perto a
mágica deslumbrante da Chuva Dourada.
Antes de contar a história do meu tio e
do meu avô, eu preciso esclarecer o que é esse fabuloso fenômeno; um
acontecimento sobrenatural oriundo de outro mundo. Os antigos contavam que a
Chuva Dourada era uma chuva abundante de moedas de ouro que caíam do alto; como
se estivessem vindo do “céu”. Era um espetáculo lindo de se ver. Isso mesmo. Do
nada, pessoas afortunadas se deparavam com uma torrente de luminosas moedas de
ouro, que caíam do alto.
A Chuva Dourada poderia acontecer em
qualquer lugar; na rua, dentro de casa, etc. De acordo com os que conheciam bem
a lenda, assim que as moedas surgiam e iam caindo, elas se acumulavam no chão.
Para garantir o mágico bônus, era preciso que o abençoado sortudo colocasse as
mãos sobre o ouro e fizesse uma oração em agradecimento. Caso contrário, o
valioso tesouro desaparecia como em um passe de mágica; da mesma maneira como
tinha aparecido, poderia sumir.
Meu avô contava que certo dia, estava
sozinho em casa com o filho (meu tio), que naquela época era só uma criança.
Não tinha energia elétrica na casa e meu avô havia preparado o banho do meu
tio, em uma grande bacia de alumínio, com água quentinha e a luz de velas. O
banho de bacia costumava ser em um pequeno quarto da casa, e não no banheiro.
Hoje, meu tio conta que lembra bem daquela noite, conta que estava tomando o
seu banho quando de repente, ele levou um susto que o fez gritar pelo pai.
O quartinho se iluminou com intensa luz
e aparentemente do teto, começou a despencar milhares de moedas de ouro que
caíam e se amontoavam no chão. Aquilo mais parecia uma cachoeira dourada;
cintilante. Quando ouviu o grito do filho, meu avô imediatamente correu até o
quartinho do banho e ao chegar à porta, não podia acreditar no que os seus
olhos viam; ficou paralisado, observando hipnotizado.
Segundo o relato do meu tio, o meu avô
ficou assistindo aquela incrível cascata de ouro que caía barulhenta e formava
uma pilha de moedas de ouro no chão. Meu tio, ainda pequeno, também assistia em
choque o que estava acontecendo; assim como o meu avô, que via aquela cena sem
entender nada. Olhos arregalados, espelhando o brilho da riqueza. Porém, o meu
avô deveria ter corrido em direção ao ouro, se ajoelhado no chão, colocado as
suas mãos sobre o tesouro, como quem se apossa de um desejado presente e ter
feito uma oração em sinal de gratidão.
Mas o meu avô não fez isso. Julgo que ele não se lembrou da lenda, ou não a conhecia naquela época. Ao invés disso,
ficou na porta do quartinho; extremamente assustado com aquela oferta espectral
que se manifestava diante dele e do meu tio. Não dá para culpá-lo. Quem não
ficaria paralisado de medo ao ver uma coisa dessas? Qualquer um ficaria no
mínimo confuso. É bem provável que inconscientemente, os dois foram
imobilizados pela dúvida; pois naquele momento, eles não souberam definir se
aquele fenômeno era uma coisa do Bem ou do Mal.
A Chuva Dourada durou alguns segundos,
uma enorme quantia em moedas de ouro se acumulou no chão e como um passe de
mágica, desapareceu diante deles. O quarto voltou a ficar como estava antes,
iluminado apenas pela luz das velas. Meu tio e meu avô se olharam, boquiabertos.
Naquele momento, meu avô se deu conta de que poderia e deveria ter feito alguma
coisa para garantir o recebimento do presente que lhe fora ofertado, e como não
fez nada, havia perdido uma fortuna. Ele nunca se perdoou por aquela especial
oportunidade perdida.
Adriano Besen é natural de Florianópolis - SC
Autor do livro
infantil: A história de uma galinha
Foi colunista do jornal
O Tropeiro
Publicado em Antologias, revistas, jornais, blogs e sites.
Escritor e Músico.
Pesquisador e
Aventureiro.
Contador de histórias.
Apaixonado por livros.
Contatos do Autor
E-mail: cp.adventure@bol.com.br
Instagram:
@adrianobesen
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