terça-feira, 25 de agosto de 2015

Mácula da Sanidade - Parte 1

Parte 1 - Estilhaços



Muito sobre essa história parece vindos de um conto de ficção, frutos de uma fértil imaginação, talvez até mesmo delírios de ilusão. De certo que eu concordaria não fosse pela certeza de que minha sanidade não havia sido maculada pelas intempéries que sobrevieram após o caso do misterioso desaparecimento de Sophie Noble naquela fatídica noite de setembro.

Do local, uma residência luxuosa situada no bairro Saint Giniez em marsella, próximo ao parque Chanot, do Vélodrome e do jardim de Bagatelle as margens do Mediterrâneo, podia-se sentir o cheiro do mar mais agradável que em qualquer outro lugar da cidade. Constituida de três andares, cada qual arquitetado de forma a inspirar diferentes marcos do iluminismo, e um extenso jardim nos fundos com uma casa de arvore cuidadosamente erguida ao redor de um enorme e grotesco carvalho, que parecia estranhamente alheio ao ambiente, como se tivesse sido transportado de sua verdadeira origem para lá, coisa da qual eu não duvido após presenciar a minuciosa arquitetura da pequena mansão da família Noble.

O Dr. Alexandre Noble havia chego em sua residência a poucas horas, vindo do Asilo Rhône em Arles a pouco mais de 20Km, local onde exercia suas funções como psiquiatra. Quando deu falta de sua esposa, acionando as autoridades.

Analisando seu quarto, último local onde acreditavamos que sua esposa parece ter estado na casa. Foi primeiramente identificado o perfeito estado de arrumação em meio ao Caos de seda. Sophie parecia ter sido arremessada a partir de sua cama direto pela janela. Não havia sinal de arrombamento na casa ou qualquer sinal de briga no quarto, apenas a larga cama desarrumada e a janela outrora entalhada em madeira negra e cristais de vidro totalmente estilhaçada de dentro para fora.

O marido de Sophia, Dr. Alexander Noble, ainda não havia se dado conta da estranheza da situação referente ao desaparecimento de sua esposa, ele só exigia que todos encontrassem-na e em vão aguardava uma ligação de possíveis sequestradores. Um dos policiais, um jovem de origem latina chamado Ezekias, foi encarregado de analisar sua suspeita de que o sumisso poderia estar relacionado com um de seus pacientes, que se acreditava ser filho de um influente nome do mercado negro. Já de acordo com minha intuição e perícia eu estava certo que aquilo não iria acontecer. A velocidade com que o corpo atravessou a janela foi suficiente para que encontrassemos estilhaços de vidro ainda presos a grade de madeira negra sujos de sangue uma casa no final da rua, a quase uma quadra. Um dos estilhaços havia atravessado para dentro da casa de uma velha senhora que percebeu as outras peças daquele quebra-cabeças de vidro e madeira na varanda de sua residência e informou a um dos oficiais que rondavam a rua.

Já outro vizinho dos Noble, Henry Clark, tinha um programa em uma rádio local e se aventurava como um meteorologista utilizando seus limitados conhecimentos em fisica e ciências atmosfêricas. Henry possuia um barômetro preso a um mastro de madeira elevado a uns cinco metros acima do teto de seu condomínio, o equipamento era monitorado eletronicamente e de acordo com seus registros não havia vento nem brisa fortes o suficiente aquela noite para caucular dados relevantes.

Seguindo a lógica do meu Inspetor, o corpo teria que ser arremessado a uma velocidade decrescente de pelo menos 70km/h a partir do ponto zero(sua cama) num ângulo de no máximo 33° levando em consideração o local onde foram encontrados os estilhaços. Se tivesse mantido a tragetória o corpo deveria ser encontrado a cerca de 67 metros do local dos destroços. Isso é claro se realmente a velocidade estivesse em ritmo decrescente ou do contrátio ela iria continuar subindo, o que seria físicamente impossível sem uma força de tração contínua.





“Esta anotando tudo Lamar? Espero que sim, não deixe escapar nenhum detalhe, o Dr. Noble é amigo do prefeito e precisamos resolver essa situação o mais rápido possível.”



O meu superior, Inspetor Hugo Marchan, era um homem resoluto e dedicado porém já em seus 67 anos apesar do fôlego, já não tinha a memória de seus tempos aureos em que era detetive da Interpol ou que comandava uma divisão da Scotland Yard. Comecei a trabalhar com ele após ele ter recebido seu diagnóstico de uma misteriosa doença mental pelo meu pai, o Dr. Remy LaCroix. O motivo teria sido em decorrência de algum trauma ocorrido em seus tempos na Inglaterra, apesar disso sua capacidade lógica apurada não havia sido afetada.

Aquem das nossas diferenças, e de idade, Hugo e eu partilhavamos de algumas coincidências interessantes em nossas vidas como o gosto pelos Contos de Allan Poe e pelo Jazz de Buddy Bolden. Da mesma forma também eramos parentes de uma mesma frustração, ambos eramos viúvos. Ele não falava muito de sua falecida mulher mas eu sabia que ela se chamava Anna e estava grávida quando da circustância de seu falecimento, informações que obtive lendo, por curiosidade e oportunidade, seu diário com décadas de anotações sobre seus casos, prazeres e agruras. Eu porém perdi minha amada Elsa devido a tuberculose, apesar de passados 5 anos eu ainda sofro com sua ausência e as lembraças das noites mal dormidas. Eu afagando seus cabelos, enquanto ela, prostrada e febril em nosso leito, se afogava dentro da própria respiração.

Por muito tempo meu estado era como o daquela janela de madeira negra, em estilhaços. Ainda hoje juntado os pedaços.

Naquela noite nada parecia certo, as evidências apontavam para um crime possível com causas impossíveis. O Inspetor Marchan não parecia surpreendido com as evidências, ou a falta delas.

Eu estava ali apenas como um consultor, ajudante e observador. meu maior objetivo era aprender com Marchan. mas minha intuição era forte e dizia que Sophie Noble não havia sido sequestrada, aquilo nem mesmo havia sido um rapto. Acreditava que Sophie Noble definitivamente não iria voltar para casa.

Aquela noite, mais um homem havia se tornado Viúvo.

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