sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Grandes Escritores e suas Grandes Obras (Parte 1) - Isaac Asimov & a Trilogia da Fundação


Hoje começo a série Grandes Escritores e suas Grandes Obras, falando sobre alguns escritores e o livro que foi considerado sua obra prima. O primeiro escolhido é Isaac Asimov, e no seu caso falarei não somente sobre um livro mas sua premiada série Fundação.

 Escrita entre 1942 e 1953, a série Fundação é considerada a obra máxima do escritor Isaac Asimov. Vencedor do prêmio Hugo, como A Melhor Série de Ficção Científica de todos os tempos, este é o livro inicial da Trilogia da Fundação.

Ela narra em três volumes principais a epopeia da humanidade sob um império que colonizou toda a Via Láctea. É neste futuro distante, no qual a humanidade se esqueceu de sua própria origem, que Hari Seldon cria a psico-história – uma ciência que mistura sociologia e matemática para prever o futuro de grandes populações. Depois de fazer os cálculos, ele antevê com precisão o fim inevitável do Império Galáctico seguido por trinta mil anos de barbárie. O brilhante cientista usa a mesma técnica para reduzir este período de crise a um milênio e conduzir a raça humana a um segundo império através de um plano e duas Fundações, uma em cada extremo da galáxia.

Você deve estar se perguntando o que há de tão especial numa obra assim, já que tantos outros autores escreveram histórias com temáticas semelhantes ambientadas no espaço.

Para começar, esta não é uma narrativa superficial e baseia-se, principalmente, no Declínio e Queda do Império Romano – um clássico do historiador inglês Edward Gibbon. Mas não fica apenas nisso e faz referências a outras doutrinas políticas e expansionistas no mínimo polêmicas. A expansão “divina” da Fundação, por exemplo, remete ao Destino Manifesto. Já a concepção de uma raça superior de humanos para governar a galáxia é semelhante aos ideais do Nazismo.

Além destas referências, ela faz paralelos entre as aventuras dos personagens e algumas passagens históricas importantes. Mas isso não faz a leitura ser maçante. Muito pelo contrário: as referências são sutis e a obra é envolvente do início ao fim, com uma boa dose de ação e aventura.

Nesse livro pouco temos de ciência realmente tangível, tudo é muito teórico e fantástico, servindo apenas como uma forma de palco para uma trama inteligente, recheada de soluções pacificas para resolução de conflitos bélicos eminentes.

Hari Seldon era um grande cientista em seu tempo. Através da matemática, associada à psico-história, ele previu o declínio do Império Galático e a perda de todo conhecimento humano, além de milhares de anos de barbárie. Com o objetivo de criar uma Enciclopédia que guardasse a história da humanidade, Hari Seldom convoca cem mil cientistas para se mudarem para o planeta Terminus e fundarem uma sociedade voltada ao conhecimento – no entanto, o real objetivo de Seldom era controlar as crises de modo a reduzir os anos de barbárie à desolar a galáxia.

A saga da Fundação é contada por Isaac Asimov em três livros: “Fundação”, “Fundação e Império” e “Segunda Fundação". Em 1966, na 24ª Convenção Mundial de Ficção Cientifica, em Cleveland, a serie foi premiada como a melhor serie de ficção cientifica de todos os tempos.

Para piorar, Hari Seldon não é qualquer um, é simplesmente o mais renomado psicólogo da Galáxia, justamente numa época em que os psicólogos se destacam justamente pela capacidade de prever o futuro. Com conhecimentos em psicologia, matemática e estatística, Hari Seldon é capaz de prever como será o comportamento coletivo da humanidade nos séculos que se seguirão (algo parecido com o que os economistas tentam fazer hoje).


Os argumentos de Hari Seldon são tão terrivelmente convincentes e seu nome é tão importante que o Império, para se ver livre da influência que Seldon poderia ter sobre a população, aceita entregar a ele verbas para que ocupe um pequeno planeta nos confins do Galáxia, Términus, onde, segundo Seldon, uma enciclópedia contendo todo o conhecimento do Universo seria escrita, preservando a sabedoria da civilização e proporcionando que o período de barbárie fosse reduzido a apenas mil anos.

O Império nem imagina que os planos de Seldon são outros. O planeta Términus na verdade seria o lugar onde floresceria uma nova comunidade, cuja missão seria substituir o próprio Império após a derrocada deste. Esta nova entidade seria chamada de Fundação.


"Estamos num futuro muito, muito distante. Tão distante que a humanidade agora ocupa toda a Galáxia e nem se lembra mais qual era o seu planeta de origem. Parece absurdo, mas do dia de hoje até a data em que é contada a saga tanta coisa aconteceu na galáxia, tantos regimes e sistemas surgiram e caíram, tantas vezes se procurou destruir a memória de governos passados, que até os registros do planeta onde a humanidade teria se erguido foram perdidos."



Diferente do que estamos acostumados, em Fundação o protagonista não é um personagem, mas uma civilização, um povo que começa quase indefeso, num planeta hostil e infértil, mas que, com a habilidade de seus governantes e guiados pelos planos de Henri Seldon, busca a prosperidade e cumprir a missão prometida.


O primeiro livro “Fundação”, é fantástico, mas é considerado por muito dos leitores da série como o mais fraco deles. Nesta primeira parte, Asimov narra diversos acontecimentos desde a criação da colônia até o momentos em que ela expande seus domínios por outros sistemas solares através de conflitos com outros planetas.

É interessante observar que a maioria dos conflitos do primeiro livro não são resolvidos através de guerras, mas de duelos intelectuais, em que os lideres de dois lados em contenda se reúnem e cada um apresenta a seu adversário qual será a sua estratégia de guerra. Após cada lance deste jogo, cada ameaça ou blefe, um líder olha para o outro e diz: “E aí, o que você vai fazer agora?”. Esses duelos, verdadeiros jogos de poker decidindo o futuro da galáxia, são os melhores momentos de Fundação. Mas é claro, há momentos em que nenhum dos lados consegue se impor em relação a outro através da conversa e as coisas terminam sendo decididas na base da pancadaria mesmo.


A coisa segue assim até o meio do segundo livro e as constantes quebras de ritmo entre um conflito e outro podem cansar um pouco os leitores. Mas é justamento quando pensamos que o ritmo da história vai desabar que fundação deixa de ser um livro excelente para se tornar uma obra-prima. É o momento que surge o “Mulo”, um inimigo tão poderoso quanto humano. Capaz de fazer toda a Galáxia literalmente cair sobre sua vontade, o Mulo também é o personagem mais trágico do livro. Temos certeza de como a tragédia se abate sobre ele no momento em que ele afirma que preferiu não entrar na mente de uma personagem simplesmente por que percebeu que ela tinha sido a primeira pessoa a gostar dele de verdade. Esse contraste entre poder e fragilidade torna o Mulo disparado o melhor personagem de Fundação.

É a partir do segundo livro também que Fundação, até aquele momento bastante linear, começa a apresentar surpresas dignas das melhores reviravoltas do cinema, como visto em filmes como “O Sexto Sentido” ou “Um Sonho de Liberdade”. Só lendo para entender. Há uma cena, no princípio do terceiro livro, Segunda Fundação, em que um dos personagens desafia o Mulo mesmo sabendo da diferença de poderes entre eles. Este momento é com certeza o mais tenso e de maior suspense que você verá num livro.

Para quem gosta de ficção científica a leitura de Fundação é uma obrigação e também um privilégio.


ISAAC ASIMOV



Isaac Asimov (Isaak Yudovich Ozimov, em russo: Исаак Юдович Озимов; Petrovichi, c. 2 de janeiro de 1920 — Nova Iorque, 6 de abril de 1992), foi um escritor e bioquímico estadunidense, nascido na Rússia, autor de obras de ficção científica e divulgação científica.
A obra mais famosa de Asimov é a série da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com sua outra grande série dos Robots. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada categoria importante do sistema de classificação bibliográfica de Dewey, exceto em filosofia.
Asimov foi reconhecido como mestre do gênero da ficção científica e, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, foi considerado em vida como um dos "Três Grandes" escritores da ficção científica.

Asimov foi membro e vice-presidente por muito tempo da Mensa, ainda que com falta: ele os descrevia como "intelectualmente combalidos". Exercia, com mais freqüência e assiduidade, a presidência da American Humanist Association (Associação Humanista Americana).
Em 1981, um asteróide recebeu seu nome em sua homenagem, o 5020 Asimov. O robô humanóide "ASIMO" da Honda, também pode ser considerada uma homenagem indireta a Asimov, pois o nome do robô significa, em inglês, Advanced Step in Innovative Mobility, além de também significar, em japonês, "também com pernas" (ashi mo), em um trocadilho linguístico em relação à propriedade inovadora de movimentação deste robô.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Livros Para Ler Antes de Morrer - Horror & Mistério

O meu blog ficou desatualizado por um bom tempo e já fazem 2 anos que eu postei a lista "LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER - FICÇÃO CIENTÍFICA & FANTASIA".
Pois bem agora chegou a vez de falar sobre os livros de Horror & Mistério, alguns deles a maioria já conhece por terem sido adaptados ao cinema, outros simplesmente por terem autores super-famosos.

Como estas listas nunca são unânimes, gostaria também de saber a opinião de vocês sobre a mesma e, caso considerem que falta algum título, por favor comentem e partilhem com os restantes leitores.

A próxima lista será dos livros de Romance & Drama.

H.P. Lovecraft - At The Mountais Of Madness (Nas Montanhas da Loucura)


Nas Montanhas Da Loucura (1936) é escrita em primeira pessoa, como de hábito do autor, na voz de um sobrevivente de uma expedição científica à Antártida, sendo testemunha de eventos terríveis, executados pelas habituais Coisas Que o Homem Não Deve Saber – só que aqui, tudo hiperdimensiona, fazendo desta uma das histórias capitais de Lovecraft.

Somos levados à uma cidade perdida, atrás de cordilheiras intransponíveis no gelo antártico, maiores que o Himalaia e o Monte Everest, cidade esta de dezenas de milhões de anos, criada por seres alienígenas tanto em origem quanto em composição, assim como a saber de sua História e seu terrível destino. O problema é afogar-se em tantas descrições: há o exótico, há o alienígena, há o assombro e há o terror, e inúmeros adjetivos ao longo do caminho, repetições de ênfases, etc. A história trata de uma expedição científica patrocinada pela Universidade do Miskatonic é enviada para a Antartida com o objetivo de coletar espécimes de rocha e solo (além de vegetais e mesmo fósseis animais). A Antartida, praticamente a última fronteira na Terra a ser explorada, oferecia-se como um atrativo científico a diversos especialistas, entretanto, com o desenrolar das descobertas – e digo em relação a descoberta da existência de cidades arcaricas, anteriores a humanidade, no continente gelado – vemos que o autor – por sua experiência pessoal na leitura de obras como o Necromicon – inflige ao olhar científico a insegurança da qual não está habituado. Talvez o momento de ápice deste encontro entre o modo científico e o completamente desconhecido seja a descoberta de ruínas e de espécimes não reconhecidos e completamente desconhecidos com uma fisiologia que beirava o inusitado, entre o vegetal e o animal (o que me lembrou os fungos) e com um aspecto que inspirava medo, especialmente aos cães. Os momentos de descrição da autópsia (dentre outros, como a leitura da história da espécie descoberta num mural na cidade abandonada devido ao resfriamento da Antartida) empolgam, quase como se estivessemos ali, ao lado, visualizando tudo aquilo.

O livro me lembra muito o filme PROMETHEUS Dirigido p/ Ridley Scott.

Richard Matheson - I Am Legend (A Última Esperança Sobre a Terra/ Eu Sou A Lenda)


Richard Matheson é, em minha opinião, um dos maiores escritores de literatura fantástica, do mesmo nível de mestres como Dean Koontz, Stephen King e H. P. Lovecraft. No entanto, diferente destes, Matheson é muito pouco conhecido no Brasil devido aos poucos livros lançados no país. Publicados aqui, apenas Em Algum Lugar do Passado, Amor Além da Vida, Hell House – A Casa Infernal, O Incrível Homem que Encolheu e A Última Esperança Sobre a Terra. Curiosamente, todos adaptados ao cinema. Sobre isso, este último que cito tem, na verdade, umas das produções mais infieis e com textos alterados que já vi em adaptações. Sim, caro leitor, trata-se de Eu Sou a Lenda, protagonizado por Will Smith há alguns anos e que não reflete 5% do que realmente é esta magnífica obra. É importante destacar que apenas a ideia principal de uma cidade “morta” foi aproveitada. Todo o resto – trama, alguns personagens e inclusive o final – foram alterados de forma grotesca. Com o leitor já ciente de tudo isso, posso falar com calma deste livro, que no Brasil se chama originalmente A Última Esperança Sobre a Terra, embora tenha sido lançado recentemente uma edição sob o nome Eu Sou a Lenda, que inclui também alguns contos do autor.

A Última Esperança Sobre a Terra conta a saga de Robert Neville, único sobrevivente de uma epidemia que se abateu sobre o mundo e que transformou todos em uma espécie de zumbis/vampiros, que se alimentam de sangue. Durante à noite, as criaturas saem à caça de alimento e, consequentemente, de Neville – que está protegido por uma casa reforçada com tábuas de madeira firme, espelhos e alhos, o que mantém as criaturas à distância. De dia, elas hibernam, momento em que o protagonista pode sair em busca de comida, além de aproveitar para caçar as criaturas não apenas para matar, mas para efetuar experimentos.

Esse é apenas o ponto de partida para uma estória insana, claustrofóbica, cruel e, acima de tudo, bela em sua essência. Você acompanha de perto a vida de Robert Neville e seus sonhos de encontrar a cura para uma doença hedionda e o desejo de achar alguém como ele em um mundo devastado. A solidão, o tédio e a rotina são tão cruéis, para Neville, como a própria doença que se abateu sobre o mundo. Não tem como não ficar comovido pelas situações por quais passa Neville, sentindo todo o drama e, acima de tudo, todo o terror de se viver em meio a uma cidade morta.

A leitura é ágil e muito gostosa. Provavelmente o leitor terminará o livro em poucos dias já que, infelizmente, é bem curto. De qualquer forma, vale cada página lida. Já começa em um ritmo rápido e até mesmo para um livro que parece seguir em uma linha óbvia, você ficará chocado com as reviravoltas que lhe esperam até o seu final.

Portanto, esqueçam o filme Eu Sou a Lenda. Não há muita coisa da obra de Richard Matheson que tenha sido aproveitado de produtivo. Uma cidade “morta” e infestada por criaturas você pode ver em Madrugada dos Mortos, Extermínio e outras diversas produções cinematográficos por aí. Então, se quer uma experiência única e uma trama original, não deixe de ler a A Última Esperança Sobre a Terra, que possui uma essência própria e que causa diversos sentimentos, onde todos são de natureza aterrorizante.



Stephen King - The Shining (O Iluminado)

O Iluminado, ou The Shinning, no original, é sem dúvida um clássico do horror dos anos 90, talvez o mais popular livro do famoso e milionário escritor Stephen King. King dispensa muitas apresentações. Vale ressaltar minha opinião sobre ele: escritor excelente no que faz (romances e contos de horror), mas que vez ou outra publica coisas bem medianas. Felizmente, não é o caso desse livro.

A trama de King reúne poucos personagens: Jack Torrance (que aceitou trabalhar no sombrio hotel Overlock, isolado do resto do mundo), o filho especial Danny( o tal iluminado do título), a mãe de Danny (sempre disposta em dar carinho ao filho) e o cozinheiro Halloran. Há outros personagens secundários, mas que servem apenas de cenário para que esses quatro vivam as terríveis experiências descritas no livro. King utiliza-se ainda de uma de suas técnicas mais milenares: “jogue todos os personagens num canto isolado do mundo e cerque-os de monstros”. O que, se bem feito, dá muito certo. Vale destacar também as relações magistralmente montadas por King para o trio familiar. O pai ama muito o filho e a mulher, mas tem problemas com álcool e vez ou outra despeja suas mágoas da vida sobre a família. O amor entre pai e filho é visível em todo o livro, desde o início morno até o clímax alucinante. Entre eles, a mãe, que ama igualmente o filho, mas não recebe tanta atenção assim por parte do pequeno.

PS: Vale ressaltar que foi feito um filme baseado nesse livro, com direção de Kubrick (para quem não conhece, foi um dos maiores cineastas do século passado) e Jack Nicholson no elenco. O filme foi extremamente aclamado (com razão) pela fidelidade à história e a aula de cinema que ele dá, e até hoje é uma das mais pertubadoras experiências cinéfilas que podemos encontrar.


Desde 2009, Stephen King vem anunciando uma continuação para sua obra-prima O Iluminado. De acordo com Lilja’s Library, numa nota postada dia 12 de novembro, o livro já teve seu segundo rascunho finalizado e se chamará DR.SLEEP.

O autor postou em seu site oficial que a trama envolve um grupo de vampiros viajantes chamado A Tribo, provavelmente cruzando o caminho de Danny Torrance. Algumas especulações apontam para o fato dessas criaturas se alimentarem de energia psíquica, o que justicaria o encontro com o “iluminado“.


H.P. Lovecraft - The Whisperer in Darkness (Um Sussurro Nas Trevas)


Um sussurro nas trevas (1930) narra os acontecimentos ocorridos após as grandes enchentes de Vermont em 1927. Ao ouvir histórias sobre cadáveres de animais desconhecidos boiando nas águas, o acadêmico Albert N. Wilmarth tenta vincular os relatos às crenças populares da região. O assunto ganha os jornais e a seguir entra em cena Henry Wentworth Akeley, o folclorista de Vermont que acredita na existência de cultos secretos e criaturas inumanas nas colinas do estado – e logo percebe estar diante de coisas muito mais poderosas do que seria capaz de imaginar. Um sussurro nas trevas é um dos grandes expoentes do “horror cósmico” de Lovecraft. O volume traz em apêndice dois textos inéditos em português: “Vermont – uma primeira impressão”, um poético relato da viagem que influenciou de maneira decisiva a escritura dessa novela e “O sussuro reconsiderado”, ensaio do escritor Fritz Leider, publicado originalmente na revista Haunted (1964).

Lovecraft tem uma legião de fãs, mas não é literatura que agrade a todos. Uma pena, porque as histórias de terror dele não são apenas clássicas, elas foram o embrião de muita coisa boa que surgiu depois. Neil Gaiman adora Lovecraft ― e fãs de Neil Gaiman podem sacar várias influências de Lovecraft em diversos dos textos dele.

O feeling desse livro é um pouco diferente dos de Nas montanhas da loucura. É intimista, como todos do autor, e até mais do que em Nas montanhas da loucura, ele nos faz sentir o drama dos personagens de um modo mais intenso. O suspense é construído de um jeito que você imagina exatamente os passos dos personagens… mas, curiosamente, ao mesmo tempo você torce para que não façam nada daquilo, que vão se meter em encrenca, que vai dar tudo errado… é impressionante o como, como as coisas vão acontecendo… o lance da gravação, com os sussurros propriamente ditos, dos seres tenebrosos cósmicos, me fez lembrar também do filme Evil Dead. É um tipo de terror angustiante, em que você vai sendo levado pelas ações dos personagens, das descobertas do estudioso que a princípio era descrente em relação a alienígenas, e depois se defronta com, bem, seres sussurrantes, com uma inteligência surpreendente.

Gustav Meyrink - The Golem (O Golem)

Esta é a obra mais conhecida de Gustav Meyrink,inspira-se na criação relatada da Gênese.No começo de nossa era alguns rabinos quiseram imitar Deus e acharam que poderiam criar um ser vivo e inteligente,valendo-se de fórmulas mágicas.(...) Amassando certa quantidade de barro vermelho era possível criar um homem pronunciando ao contrário certass combinações criadas por uma seita chamada Chassidim.Escritores alemães do século XIX exploraram bastante este mito e , um pouco mais tarde,alguns autores franceses modificaram a lenda. Gustav Meyrink é, sem dúvida,o mais inquientante entre todos.

O Golém, originalmente, é um mito criado pela tradição da Cabala, que trabalha com a idéia desenvolvida pela tradição judaica de que o homem é um ser feito pelo Criador a partir do barro do terra e animado pelo sopro divino. É esse o mito desenvolvido pelo cronista bíblico na sua narração da obra genética de Deus, ao criar o homem Adão.Até aí impera o espírito místico e religioso do homem ao atribuir uma concepção mágica ao fenômeno humano. É o espírito relogioso que fala. Mas logo em seguida vem uma concessão ao espírito científico ao atribuir o nascimento da mulher a partir de uma operação cirúrgica (embora magicamente feita por Deus), na qual a doce companheira do homem é produzida a partir de uma costela sua. Aqui vemos Deus como um cientista trabalhando como um cientista em seu laboratório.
E o homem, moldado por Deus, herda, em seu bestunto, a qualidade de Criador. Ou pensa que herda. Pois ele que guarda em seu projeto inicial a informação de como procriar e, mais que isso, entender como isso pode ser feito, julga que também, como Deus, é capaz de criar seres vivos.
Essa idéia é uma obsessão que o acompanha desde que ele aprendeu a pensar. Está na origem de velhos mitos, como as próprias narrativas do Gênesis, que provavelmente são inspiradas em narrativas mais antigas ainda, pois já aparecem em ancestrais contos súmerios, e também nas modernas pesquisas da ciência da engenharia genética e da robótica. O homem quer porque quer fabricar cópias de si mesmo, não da forma natural, pelos processos pelos quais o seu Criador o dotou, mas pelo seu próprio poder de criar.
Esse é o tema central dessa lenda instigante e intrigante que é O Golem.


Bram Stoker - Drácula

Em Drácula, de Bram Stoker, podemos dizer que os personagens são meio planos, já que os bons são extremamente bons, e os maus são absurdamente malignos. Na minha opinião, o personagem mais interessante do livro nem é o próprio Drácula, mas sim R. M. Renfield, o “louco”. Já o personagem Drácula foi criado a partir do verdadeiro Príncipe Vlad Tepes como molde. Seu nome vem do pai dele, o Príncipe Vlad Dracul. Mistura elementos, tanto da cultura Irlandesa quanto da Hungria em um excelente livro.

A leitura não é simplista, pois ela é carregada não somente de termos de uso não tão comum, como é marcada por todos os preconceitos da época, e a narrativa é mais lenta, por meio de cartas, diários, e isso não é um problema para quem gosta desse tipo de narrativa, certo? Vale muito a pena ler essa obra, especialmente se você gosta de vampiros. Afinal, esse livro deu origem a muita coisa que veio depois disso, sendo leitura obrigatória para quem realmente aprecia os seres da noite, mesmo aqueles que não gostam da versão clássica do vampiro mal, avesso a alho, cruzes, etc.


O mais famoso romance do inglês Bram Stoker tem sido evitado por leitores que não gostam de estórias de terror, um lamentável fato que se deve a avaliações precipitadas. Na verdade, Stoker se revela um habilidoso contador de estórias, sendo Dracula um romance leve, de narrativa dinâmica e delicioso clima vitoriano. O livro pode ser entendido como uma fábula gótica sobre a condição humana, mas com o ritmo das estórias de aventura, dos filmes policiais e dos contos de suspense. Um jovem corretor de imóveis londrino é enviado para a Europa central pelo seu chefe para negociar com um nobre romeno interessado em adquirir uma propriedade na Inglaterra. Chegando lá, o negócio se concretiza, apesar de estranhos fatos que, a pouco e pouco, aterrorizam o pobre funcionário. De volta à Londres, o rapaz percebe uma correlação entre preocupantes acontecimentos noticiados pela imprensa local, tristes ocorrências no seu círculo de amizades e a chegada do nobre à cidade. O nobre se chama Conde Dracula. O grupo de amigos, dentre os quais se destaca o médico Seward e seu ex-professor dos tempos de faculdade, Dr. Van Helsing, se organizam para desarticular o plano de Dracula, interessado em reproduzir na maior cidade de então o mesmo domínio que exerce sobre os habitantes da Transilvânia. Jonathan Harker, o corretor que se hospedou no castelo de Dracula, e sua noiva, Mina, também participam da caçada ao vampiro. A segunda metade do livro é extremamente ágil, sendo normalmente lida em um só fôlego. Escrito em 1897, este livro está impregnado dos valores da época. A Europa começava a se recuperar de uma longa depressão econômica (1873-95), estando às vésperas da ?Belle Epoque?. O mundo ainda não havia conhecido os horrores das guerras mundiais; faltavam 20 anos para eclodir a revolução russa; o avião ainda não havia sido inventado e a energia elétrica ainda não havia se difundido às massas; a Inglaterra ainda era a maior potência internacional, sem ter consciência de que entre 1914 e 1945 a ordem mundial sofreria mudanças irreversíveis no que tange à importância da coroa britânica. Enfim, Dracula de Bram Stoker acaba sendo um documento histórico que registra um mundo que estava prestes a deixar de existir. Hoje, Dracula certamente pensaria em ir para New York.


Henry James - The Turn of the Screw (A Outra Volta do Parafuso)



A Outra Volta do Parafuso, começa naquele clima gostoso que precede as grandes histórias de terror. Tudo que ficaremos sabendo nas páginas seguintes, é contado através de um senhor muito rico dono de uma mansão, que certa noite, ao conversar com os seus convidados sobre algumas histórias de terror sentados ao redor de uma lareira, anuncia que há muitos anos tomou conhecimento do relato mais aterrador que já ouviu em sua existência. Todos ficam curiosos, obviamente, e algumas noites seguintes, o anfitrião pega as notas escritas pela própria protagonista da história que irá ser contada (uma antiga amiga), e começa a ler em voz alta para os seus hóspedes. Dá-se então, o início oficial da história.

"Porque a coisa é tão assustadora?" Ele continuava a olhar-me fixamente. "Vocês vão entender", e repetiu: "Você, vai entender".

Começa então um relato em primeira pessoa de uma protagonista sem nome, intimamente ligada ao leitor através de um diário escrito pela mesma, onde relata com minúcias os acontecimentos que precederam a sua estranha contratação para trabalhar em uma propriedade afastada da civilização, até a chegada enfim, à casa de campo onde irá trabalhar. Lá ela conhece os seus pupilos, duas crianças adoráveis e angelicais, as quais logo adquire uma enorme afeição e sentimento de proteção. Seus dias porém, vão tornando-se menos sossegados, pois a sensação de uma presença macabra de certa forma ligada a mansão e as suas crianças, permeia e corrói aos poucos os seus pensamentos.

Os diálogos são incrivelmente bem construídos; cada palavra, cada frase,  pode vir carregada de diversos sentidos diferentes e não sabemos ao certo o que tirar a partir dali - daí a ambiguidade do texto. É quase como um jogo, onde nenhum dos personagens deixa a peteca cair no chão, em diálogos repletos de sentidos ocultos em que ficamos no perguntando "o que ele quis dizer com isso?". O leitor em certo ponto deverá tomar partido sobre o que acreditar; o sobrenatural nos deixará na dúvida: "ele existe ou não?"; enquanto isso a situação vai caminhando para um clímax habilmente conduzido e aberto a diferentes interpretações.

"Uma vez imaginei reconhecer, tênue e distante, o grito de uma criança; em outra ocasião dei por mim assustando-me ao ouvir passar pela minha porta passos leves. Mas essas fantasias não eram tão nítidas que não pudessem ser descartadas, e é só à luz, ou talvez melhor dizendo, à treva de outras ocorrências subsequentes que elas agora me voltam à mente."

O livro foi escrito no século XIX, e por isso os diálogos podem ser um tanto floreados e formais demais para quem não está acostumado a esse tipo de escrita. Porém em momento algum se torna de difícil interpretação, e pode ser lido sem maiores problemas. O clima de expectativa também ajuda muito para que continuemos fielmente a leitura, sempre na espera do que está por vir, de uma luz no fim do túnel que arranque enfim as nossas dúvidas.

O autor teve uma ideia original quanto a elaboração do enredo para a sua curta história de terror, mas da minha parte curti cada momento dessa espécie de terror psicológico criado por ele. Henry James sempre se esquivou dos questionamentos do público em relação a esta história; uma prova de que o que ele de fato queria era deixar tudo a cargo da interpretação de cada um. O autor, inclusive, em certa ocasião, declarou esta criação como sensacionalista, um livro criado para agradar aos leitores menos preparados para enfrentar as exigências de suas obras mais importantes - o que ironicamente tornou-se uma contradição, pois a estética necessária para a construção de tal enredo é de tamanho caráter artístico, que este tornou-se um dos seus títulos mais importantes ao longo dos séculos, já tendo originado diversas análises e pesquisas, em uma tentativa de desvendar o significado oculto, entremeado no duplo sentido dos seus diálogos.




terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dicas de J.J. Abrams


A importância de mistérios em histórias de ficção.

Posted by Ficção em Tópicos on in inspiração | No Comments



Em mais uma ótima palestra do TED, o criador da série de tv LOST, J.J. Abrams, fala sobre a importância de mistérios em histórias de ficção.

O roteirista inicia sua apresentação chamando a atenção para uma caixa com truques de mágicas que ele comprou décadas atrás e, até hoje, ele nunca abriu. Abrams fala de como essa caixa representa infinitas possibilidades, enquanto defende a ideia de que mistério é o maior catalisador de imaginação.

Ele faz uma analogia entre histórias e a caixa fechada. Ele argumenta que ambas despertam perguntas na mente das pessoas, as fazem levantar hipóteses sobre o seu conteúdo com base no que é visível, e as instiga a acompanhar a revelação dos pequenos mistérios que dão pistas sobre sua importância.

Abrams reforça que ocultar certas informações que permitem um entendimento completo da história é uma forma eficaz de envolver a audiência.

Isso cria um espaço para a imaginação das pessoas construírem ainda mais mistério ao redor do enredo e dos personagens a partir das suas próprias experiências.

O ponto de interrogação estampado na caixa (e no início de toda história de ficção) é uma metáfora simples, mas significativa, que representa uma pergunta a ser respondida, um dilema a ser decidido, um segredo a ser decifrado, uma hipótese a ser provada.

Este vídeo reforça o importante papel das histórias de ficção em ajudar pessoas a investigar os mistérios da sua própria existência.

Assista ao vídeo abaixo (em inglês, com legendas em português).

E você, como usa mistérios para envolver as pessoas em suas histórias de ficção?

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