sábado, 15 de setembro de 2012

Grandes Escritores e Suas Grandes Obras (Parte 2) - Frank Herbert & Duna



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1965 Duna rompeu com muitos temas comuns à ficção de gênero produzida até então, deixando de lado os robôs artificialmente inteligentes, bizarras raças alienígenas humanoides e sagas espaciais para focar no elemento humano e criar metáforas que representavam os perigos e medos da época em que foi escrito. Tal ousadia rendeu ao livro o status de se tornar um dos maiores best sellers de ficção científica de todos os tempos. Duna ganhou os prêmios Hugo e Nebula no ano de sua publicação. O romance rendeu ainda uma série de mais cinco livros escritos por Herbert e inspirou um filme dirigido por David Lynch, duas minisséries de televisão realizadas pelo Sci Fi Channel, jogos eletrônicos e uma série de prequels co-escritas por Brian Herbert, o filho do autor, e Kevin J. Anderson.

Um breve resumo da história: a família Atreides é incumbida pelo Imperador Padixá de assumir o controle do desértico planeta Arrakis, mais conhecido como Duna. Nesse inóspito território, o duque Leto Atreides, sua concubina Lady Jéssica e o filho Paul Atreides terão que se adaptar a limitações e problemas diversos, como revoltas e o contrabando da especiaria mélange. Esse produto é essencial para o império, já que a droga é utilizada pelos navegadores da Guilda para atravessar as dobras espaciais e levar as naves a seus destinos corretos, já que a especiaria os premia com um dom de presciência fundamental a suas funções. O que a casa dos Atreides não sabe é que o Imperador Padixá está temeroso com a crescente popularidade e força do duque Leto, e pretende dar um golpe definitivo à sua casa, utilizando como aliado o inescrupuloso barão Vladimir Harkonnen.


O livro é de compreensão difícil, há uma gama abrangente de expressões e conceitos da própria história que acabam confundindo o leitor mais desatento. Felizmente, apêndices ao final do livro servem de orientação, não nos deixando se perder na complexidade dos elementos apresentados. Após degustar metade do livro, estes elementos já conseguem ser organizados na mente, e a história passa a viciar a cada página.


Na verdade, uma palavra para representar o ritmo de Duna é... frenético. Foram raros os momentos em que a leitura torna-se cansativa e sem avanço: em algumas cenas onde prevaleciam a jornada por entre os cenários arenosos do deserto, em que o autor descrevia precisamente os detalhes de se viver em tal lugar árido. Fora isso, a trama consegue elevar e diminuir a tensão constantemente, um ritmo cativante amparado pela divisão do livro em três outros livros menores - coisa semelhante que acontece num volume do Senhor dos Anéis( livro I e livro II). Desta forma, o desenvolvimento do enredo sempre demonstra um início e um fechamento climáx que dá corda ao próximo livro, contribuindo bastante para manter o leitor preso às suas 600 páginas de história.

Um detalhe importante sobre os capítulos é que eles não são nomeados, e sim, apresentam uma introdução: uma citação de algum livro do universo de Duna para contextualizar o capítulo que virá em seguida, o que chamamos de epígrafe. Um método estiloso e chamativo que dá uma cara diferente ao texto. Acho bem interessante este tipo de início, pois coloca uma grande expectativa na leitura a partir de frases intrigantes.

No plano cultural, temos os costumes dos Fremen(povo do deserto) que faz alusão direta à escassez de água no planeta, e nisto já puxa um gancho para a questão ecológica também tratada no livro. A forma como a água é vista em Arrakis é algo impressionante, os costumes que a simples ausência deste líquido precioso pode gerar numa raça é de deixar qualquer um impressionado. Trajes destiladores, que conservam a água de seu corpo, capturando a umidade, e reservando-a numa bolsa no traje; há tendas com este mesmo planejamento de conservação da água. O fato de você chorar também pode ser visto como um desperdício de água. Enfim, há uma série de costumes influenciados pela escassez da água.


O universo de Duna pende mais para a fantasia do que para a ficção científica, pois, tirando as percepções lógicas do autor nos temas citados acima, o que temos é praticamente um mundo medieval. Não há computadores, pois a raça humana já enfrentou uma jihad contra as inteligências artificiais no passado e agora uma casta humana, batizada de Mentats é que faz as vezes de máquinas nos cálculos e decisões. Apesar das viagens espaciais estarem presentes, a maior parte da história se dá no deserto, longe de máquinas e artefatos tecnológicos. Não pense em sabres de luz ou pistolas lasers, as disputas são realizadas com lâminas  envenenadas e resolvidas pela habilidade, ou grau de leviandade, dos combatentes. E, mais do que isso, o desenvolvimento da capacidade de precognição é a arma mor dos mais fortes.

Somos apresentados a bruxas Bene Gesserit, tribos nômades do deserto e acompanhamos o desenvolvimento do possível escolhido que pode provocar uma grande mudança no status quo. E o grande mérito da obra, analisada como ficção, está no brilho dos inúmeros coadjuvantes que se espalham por suas páginas. Desde o traidor da casa Atreides, passando pelo mentat Thufir Hawat, o soldado Gurney Halleck, Duncan Idaho, o traiçoeiro Feyd Rautha, a pequena Alia e tantos outros, cada qual com seu brilho e uma vida intensa dentro da obra.
Diferente da trajetória de Luke Skywalker, Aragorn e Frodo e até mesmo de Harry Potter, a aceitação dos dons do personagem protagonista Paul Atreides, por ele mesmo e os demais, acontece de uma forma extremamente casual, fria e desprovida dos desafios que estamos acostumados a ver na trajetória de um verdadeiro herói. É difícil sentir simpatia por um personagem que já aparece se achando o tal, é aceito como o tal e segue como o tal sem tomar nem um tapa na cara.





Por outro lado, temos um grande deleite ao perceber as analogias ao cenário político nas areias de Duna. Ainda atual, o livro provoca com suas meditações sobre os confrontos entre ocidente e oriente, as batalhas movidas pela religião, a força imperial centrada em um único eixo e uma especiaria capaz de “mover o mundo” (er… petróleo?). Nada que digo aqui é original, a obra já foi analisada, resenhada e avaliada por um sem número de pessoas e cada um desses fatores esmiuçado sem piedade. Contudo, apenas a leitura da obra, senti-la, pode fazer o leitor entender a magnitude alcançada por Herbert em seu trabalho. Sim, é um livro difícil para as novas gerações, não possui batalhas infindáveis e ação ininterrupta, mas elas aparecem no momento certo, dentro de um contexto, e são arrasadoras. Pense em A Guerra dos Tronos e nas articulações políticas que agitam a trama, Ned Stark tem muito do duque Leto, como homem de percepção, vontade e moral inabalável, que deve pagar por não se adequar a um mundo que trata tais qualidades como uma ingênua fragilidade.

Vermes gigantes que se movimentam por baixo do deserto e que irrompem da areia ao menor passo ruidoso dado sobre o terreno arenoso. Especiarias que conferem uma cor azulada aos olhos e que possui propriedades geriátricas. Humanos chamados Mentats treinados para pensar logicamente como computadores, já que o Império proibiu o uso de máquinas pensantes. Isso e muitos outros elementos permeiam o enredo de Duna. Eu não conseguiria fazer um resumo de todas as outras tramas e elementos do livro. Apenas confesso que é de uma riqueza imaginativa exuberante.


Mesmo exigindo um certo esforço e paciência com seu protagonista, e muitas consultas ao glossário que se avoluma ao final da obra, Duna precisa ser lido por sua importância e vivacidade, para se compreender qual a fonte onde tantos autores beberam para a construção de obras mais jovens que hoje apreciamos e, acima de tudo, para identificar nesse distante futuro, muitas galáxias distantes de nós, uma verdade sobre nosso presente. 



Adaptação Cinematográfica



O primeiro trailer da nova adaptação de Duna saiu recentemente e deixou os fãs animados. O filme será estrelado por Timothée Chalamet, Oscar Isaac, Zendaya, Jason Momoa e Rebecca Ferguson. 
De acordo com o diretor, Denis Villeneuve, sua adaptação cobrirá cerca de metade do livro, ou seja teremos dois filmes. 



Frank Herbert


Frank Patrick Herbert
(8 de outubro de 192011 de fevereiro de 1986) foi um autor de ficção científica norte americano de grande sucesso comercial e de crítica. Ele é mais conhecido pela obra Duna, e os cinco livros subseqüentes da série. A saga de Duna trata de temas como sobrevivência humana, evolução, ecologia, e a interação entre religião, política e poder. Arthur C. Clarke escreve que Duna foi "uma obra única de ficção... Não conheço nada comparável a ela exceto O Senhor dos Anéis." Dune foi condecorado com o prêmio Nebula em 1965 e dividiu o prêmio Hugo em 1966.

Frank Herbert nasceu em 1920 em Tacoma, Washington. Desde cedo soube que queria ser escritor e, em 1939 mentiu sobre a sua idade para conseguir o seu primeiro emprego no jornal Glendale Star.


Houve um hiato temporário em sua carreira de escritor enquanto ele serviu na marinha americana como um fotógrafo durante a Segunda Guerra Mundial. Ele casou-se com Flora Parkinson em 1941, mas se divorciou em 1945 após o nascimento de sua filha.

Herbert começou a ler ficção científica nos anos quarenta e, na década de 50 começou a escrevê-la, com pequenas histórias que eram publicadas em Startling Stories e outras revistas. Durante essa década publicou cerca de 20 histórias.
Herbert recusou-se a permitir que a grande banda inglesa de heavy metal IRON MAIDEN utilizasse o nome da sua obra "Duna" num dos seus temas do álbum "Piece of Mind", A música de Iron Maiden ficou conhecida como "To Tame a Land"
Sua carreira como romancista começou com a publicação de The Dragon in the Sea em 1955, história ambientada num submarino do século XXI como uma forma de explorar sanidade e loucura. O livro previu os conflitos mundiais sobre a produção e o consumo de petróleo. O livro foi um sucesso de crítica, mas não atingiu grande sucesso comercial.
Herbert começou a pesquisar Duna em 1959 e pode dedicar-se em tempo integral a obra porque sua esposa voltou a trabalhar em tempo integral como escritora de propagandas para lojas de departamento. Helbert relatou mais tarde em sua entrevista com Willis E. McNeilly que o romance iniciou-se quando ele supostamente deveria escrever um artigo sobre dunas de areia de Florence, Oregon, mas ele ficou tão envolvido que retornou com muito mais material do que seria necessário para um simples artigo. O artigo nunca foi escrito, mas serviu como base para as idéias que levaram a "Duna".
Depois de seis anos de pesquisa e escrita, Duna foi terminado em 1965. Muito longe do que se esperava de ficção científica na época, ele foi publicado na revista Analog em dois volumes separados, em 1963 e 1965. Ele foi rejeitado por aproximadamente 20 editoras antes de finalmente ser aceito. Um editor profeticamente escreveu "Posso estar cometendo o erro da década, mas...," antes de rejeitar o manuscrito. Mas Chilton, uma editora de pequeno porte na Filadélfia deu a Herbert um adiantamento de U$7500,00 e Duna logo foi um sucesso de crítica. Ele ganhou o prêmio Nebula pelo melhor romance em 1965 e dividiu o prêmio Hugo em 1966. Duna foi o primeiro romance de ficção científica ecológico, contendo uma grande quantidade de temas inter-relacionados e diferentes pontos de vista de seus personagens - uma característica presente em todo o trabalho maduro de Herbert.
O livro não se tornou um bestseller instantâneamente. Em 1968 Herbert ganhara U$2000,00 com suas publicações, muito mais do que os romances de ficção científica da época estavam lucrando, mas não o suficiente para torna-lo um escritor em tempo integral. Entretanto, a publicação de Duna abriu muitas portas. Ele foi um professor de escrita no Seattle Post-Intelligencer de 1969 até 1972 e estudante de uma série de temas interdisciplinares na Universidade de Washington (1970–2). Ele trabalhou no Vietnam e no Paquistão como consultor social e ecológico em 1972. Em 1973 foi diretor de fotografia do programa de televisão The Tillers.

Um homem é um idiota em não colocar tudo de si, a qualquer momento, no que está criando. Você está fazendo a coisa no papel. Você não está destruindo, está plantando uma semente. Então, não se preocupe com inspiração, ou qualquer coisa como isso. É apenas uma questão de sentar e trabalhar. Eu nunca tive problemas em escrever apenas um parágrafo. Eu já ouvi falar disso. Eu me sentia relutante em escrever em alguns dias, por semanas inteiras, e as vezes até por mais tempo. Eu preferiria muito mais ir pescar, por exemplo, ou apontar alguns lápis, ou ir nadar, ou por que não? Mas, depois, retornando a leitura do que eu havia produzido, eu era incapaz de detectar a diferença do que veio facilmente e do que eu fiz quando me sentei e disse "Bem, agora é hora de escrever e agora eu vou escrever". Não havia diferença entre um papel e outro." - Frank Herbert

Em 1972 ele pode se tornar um escritor em tempo integral e durante os anos 70 e 80, teve um sucesso comercial considerável como escritor. Ele viveu entre os estados do Hawaii e Washington. Em sua época ele escreveu vários livros e abordou temas ecológicos e filosóficos. Ele continuou a saga Duna, continuando com O Messias de Duna, Os Filhos de Duna e O Imperador Deus de Duna. Outros textos foram The Dosadi Experiment, The Godmakers, The White Plague e os livros que escreveu em parceria com Bill Ransom: The Jesus Incident, The Lazarus Effect e The Ascension Factor.
Mas sua ascensão foi marcada por tragédia. Em 1974, Bervely foi operada de cancer, o que deu a ela mais dez anos de vida, mas afetou sua saúde. Ela morreu em 7 de fevereiro de 1984. Em sua dedicatória em As Herdeiras de Duna, Herbert escreveu uma nota para sua esposa.
1984 foi um ano tumultuado na vida de Herbert. No mesmo ano que sua esposa morreu, sua carreira decolou com o lançamento da versão filmada de Duna, por David Lynch. Apesar da grande expectativa, de uma produção com grande orçamento e com um elenco classe A, o filme foi pouco elogiado pela crítica e público nos Estados Unidos. Entretanto, apesar da resposta americana desapontadora, o filme foi um sucesso na Europa e no Japão. No mesmo ano Herbert publicou o quinto livro da saga, Os Hereges de Duna. Finalmente, após a morte de Bervely, Herbet casou-se com Theresa Shackelford depois de um ano.
Em 1986 Herbert publicou As Herdeiras de Duna, que deixou em aberto várias possíveis sequências para a saga. Esse foi o trabalho final de Herbert que morreu de cancer do pancreas em 11 de fevereiro de 1986, na cidade de Madison, Wisconsin com 65 anos.





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